Shiva Lens Reflex

Nestes últimos dois anos tive oportunidade de viajar bastante. E por todo o lado onde andei constatei para minha surpresa que há cada vez mais pessoas a usar câmaras SLR. Embora as SLR sejam caras, grandes e pesadas e as câmaras compactas estejam cada vez melhores e mais práticas, por alguma razão as SLR estão a ganhar popularidade.

Há uns tempos um colega meu, que não percebe nada de fotografia nem quer perceber, pediu-me ajuda para escolher uma SLR para oferecer à namorada, que também não tem interesse particular em fotografia. Na altura tentei convencê-lo de que era um disparate e que nem ele nem ela tirariam qualquer proveito de uma SLR. Não sei se seguiu o meu conselho ou se acabou por a comprar.

Há uns meses atrás outro colega meu também sem grande interesse em fotografia veio pedir-me ajuda para comprar uma SLR e, depois de ponderar sobre as especificações, acabou por comprar a nova Canon 40D por achar que a Canon 400D não lhe chegava. Logo a seguir a comprá-la foi de férias e depois mostrou-me as fotos que tirou com a nova câmara não havendo nenhuma que não pudesse ter sido tirada com uma qualquer compacta.

Já conheci inúmeras pessoas com SLR que não fazem sequer ideia de como funciona essa coisa da velocidade e da abertura e se limitam a usar o automático, mas que continuam (supersticiosamente?) a preferir a SLR a uma compacta.

Há 3 ou 4 dias atrás visitei a Elephanta Island que fica em Mumbai na Índia. Esta ilha é famosa por ter um fascinante templo a Shiva (deus hindu da destruição) que fica dentro de uma caverna gigante na qual há uma série de estátuas enormes e fascinantes relatando vários episódios da vida deste deus. A caverna está constantemente populada por dezenas de turistas (eu incluído) que fotografam freneticamente todas as estátuas. Ora pude constatar que uma boa parte destes turistas fotógrafos vinham munidos das suas SLR. A caverna era bastante escura mas ainda assim havia luz suficiente para, com o ISO a 1600 e alguma sub-exposição, ter tirado uma série de fotografias que considero intereressantes. Mas embora lá houvessem uma série de SLRs, todas elas estavam a usar o ranhoso flash incorporado. Parece-me evidente que o resultado não pode ser grande coisa e que mais valia comprar uma colecção de postais nas inúmeras lojinhas à volta do templo. Mas a minha questão não é essa.

O que me intriga é: porquê esse masoquismo de andar com um peso daqueles atrás sem necessidade nenhuma?

Nota: a foto deste post é da estátua principal do templo de Elephanta Island: uma cabeça do Shiva com uns 6 ou 8 metros de altura. Situa-se no sítio mais escuro da caverna e por isso, em vez de tentar compensar (o que seria impossível porque não tinha tripé), experimentei assumir na foto a escuridão do lugar. Fiquei bastante contente com o resultado embora aqui no blog, nesta dimensão pequena e ainda por cima sob um fundo branco, tenha perdido bastante.