Lightning tutorial *
1. Disclaimer
Não tenho nenhuns conhecimentos especiais sobre fotografia de relâmpagos para além daqueles que o amador interessado está farto de saber e que o senso comum do fotógrafo experiente pode atingir. A isso soma-se um excelente 10 na cadeira de Probabilidades e Estatística, feita no longínquo ano de 1992 (acho) no IST, e um monte de outras cadeiras relacionadas com telecomunicações onde a estatística abunda.
2. Nota prévia
Há três coisas chatas nos relâmpagos:
2.1. Normalmente chove durante uma trovoada e isso é tanto mais verdade quanto mais próxima e nítida ela for. As máquinas fotográficas não funcionam lá muito bem com água a cair-lhes em cima, quanto mais não seja porque as fotografias com salpicos na lente estão 'démodé';
2.2. Durante uma trovoada, os relâmpagos aparecem quando e onde lhes dá na telha. Especialmente na parte de onde: quanto mais perto (e interessante) for a tempestade, maior será a variância de localização do próximo relâmpago. Na parte do quando, também não se consegue muito: normalmente não há dois relâmpagos muito seguidos, mas às vezes há. São mais ou menos como os autocarros;
2.3. Nunca sabemos quando vai haver uma trovoada de jeito e dificilmente podemos escolher onde vamos estar quando houver a próxima. Só com uma incrível sorte ou com um espírito de missão economicamente pouco realista é que se poderá fazer uma sessão de fotografia de relâmpagos com um cenário interessante.
3. Técnica
Tanto quanto sei, a técnica para fotografar relâmpagos é qualquer coisa tão simples como fazer exposições muito longas e esperar que apareçam uns raios (e coriscos?) giríssimos durante esse tempo. Se forem coisas muito lá ao longe, o diafragma todo fechado pode ser demais, mas agora com as máquinas digitais quem é que está preocupado? Vê-se como saiu e corrige-se para a próxima. Antigamente 'a próxima' podia ser daí a um ano, agora é nos próximos trinta segundos;
4. Problemas
Abri a máquina trinta segundos que é o máximo que ela faz sem ser em 'bulb'. Comecei com o diafragma todo fechado, para ver. Os relâmpagos, que estavam longe nesse momento, nem se viam na imagem. Era preciso abrir mais o diafragma. Aqui abaixo está um exemplo, feito com f:8. Como é notório, tem luz ambiente a mais e relâmpago a menos. A luz ambiente - a iluminação pública e a luz dos relâmpagos reflectidas nas nuvens - era demasiada. Só me restava reduzir os tempos de exposição para poder manter uns diafragmas que não escondessem completamente os relâmpagos que naquele momento ainda eram bastante pindéricos. A tempestade viria a fazer o favor de se aproximar de mim, pelo que o problema do excesso de luz ambiente acabou por se atenuar mais tarde.
5. Estatística
Como já disse antes, uma das coisas chatas dos relâmpagos é que parece que têm vontade própria e só aparecem quando lhes dá na telha. Deve haver uma fórmula estatística qualquer que demonstre o quanto exponencialmente se reduz a probabilidade de 'acertar' num relâmpago quando a exposição cai de 30 segundos para 8. Mas eu senti isso na prática, pela quantidade de vezes que apareceram relâmpagos magníficos imediatamente após o obturador se fechar, ou por aqueles que só apanhei parcialmente. Foi essa uma das razões por que na foto do outro dia eu juntei duas exposições distintas (a outra foi para ver como ficava);
6. Resultado
Depois de acertar (por tentativas) o 'White Balance' e de desligar o 'Noise Reduction' da máquina, para não ficar à espera muito tempo entre disparos, lá pude fazer umas tentativas e em várias centenas de fotos até apanhei alguns relâmpagos, raios me partam! Aqui fica um dos resultados (este não tem sobreposição de imagens). Para combater a incerteza da localização, o que eu fiz foi apostar numa direcção e apontar para lá, disparando sucessivamente até apanhar um relâmpago de jeito e ignorando estoicamente todos os raios deslumbrantes que estavam a acontecer nas outras direcções.
7. Finalmente
Há um factor de paciência envolvido. Só com esse factor é que se pode perceber o evoluir da tempestade. Se está a diminuir ou a aumentar, a aproximar-se ou não e para que lado. Essas coisas. A mente não deve estar a pensar tanto na técnica fotográfica que deixe de perceber esta parte. Senão, a dada altura estamos na varanda a disparar consecutivamente para um céu nublado em que já não acontece nada sem nos apercebermos.
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* Não confundir com 'lighting'. É sobre relâmpagos mesmo. Não tem nada a ver com flashes.

1 comentário:
WEEEEEEe!!!!!!!!
Obrigado por partilhares a tua experiência! Tal como eu previa, é tudo questão de paciência! (e alguma sorte de ser o raio aparecer na zona que estamos a disparar!)
Agora só me falta esperar pela próxima trovoada! ;)
Abraços!!
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