quarta-feira, agosto 24, 2005

Incêndios

Eu estava convencido que os telejornais nesta época estavam convertidos em contadores de incêndios por circunscrever. Isto porque sempre que via qualquer coisa de relance nos cafés, as frases de abertura eram invariavelmente qualquer coisa do género "boa tarde, há neste momento quarenta e sete incêndios por circunscrever no país".

Mas ontem vi um telejornal inteiro e percebi que afinal não é assim. Os primeiros doze minutos do noticiário foram passados a dar pormenores exaustivos sobre apenas três ou quatro das localizações mais problemáticas do momento. Os dezassete minutos seguintes não foram sobre os incêndios, mas sobre problemáticas com eles relacionadas. Os catorze bombeiros madeirenses que vieram reforçar os contingentes do continente. O senhor de não-me-lembro-onde que ficou sem nada e agora dorme numa casa emprestada e vive da ajuda dos vizinhos, à espera do apoio do Estado. Os helicópteros que os alemães nos emprestaram. Os repórteres alemães que vieram atrás dos helicópteros e que estão muito espantados com o facto de conseguirmos construir dez estádios para o Euro e não conseguimos acabar com os incêndios. O facto de os nossos incêndios já aparecerem nos noticiários internacionais. Os três bombeiros franceses que vieram a expensas próprias para Portugal para ajudar, mas afinal não podem por causa da burocracia. Os aviões italianos que vão encher-se de água ao Mondego para combater um fogo noutro não-me-lembro-onde. Extensas entrevistas às pessoas que estava na praia em Lagos, onde chegou o fumo dos incêndios da zona centro (abundância de imagens para demonstrar que estava fumo e não se via a ponta dum corno). Os incêndios na Galiza. Talvez me tenha escapado qualquer coisa, mas isto foram essencialmente os primeiros trinta minutos do telejornal. Os outros trinta foram ocupados com as contratações do Valência, do Chelsea, os resultados do Sporting de Braga, o "caso Miguel" (?) e outros acontecimentos do mesmo calibre que já fiz a mim próprio o favor de esquecer.

Mas porque é que eu me dei ao trabalho de ver um telejornal inteiro? É uma pergunta legítima. Normalmente não me dou a esses trabalhos, porque sei muito bem a baixa qualidade informativa que temos e tenho a plena consciência da perda de tempo que aquilo é (a não ser que queira saber do senhor que ficou sem casa nos incêndios ou que os helicópterios alemães acartam dois metros cúbicos de água, ou que fulano vai juntar-se a beltrano, ambos portugueses, na próxima época num qualquer clube inglês). O que se passou foi que a Cristina queria ver de umas cheias que está a haver na Suíça e como achou que isso devia ser importante, presumiu (ingenuamente, foi o que tentei demonstrar-lhe) que falariam sobre isso no início do telejornal. Acho que até tivemos que apanhar com a notícia do ex-bombeiro madeirense que entrou num lar de idosos e violou quatro mulheres ("entre os 74 e os 92 anos" se a memória não me falha), antes de ver a peça de trinta segundos sobre as enxurradas na Suíca, Bulgária, Moldávia e outros sítios que já não me lembro (notícia também ela de intersse duvidoso, em si, mas aceitável para uma peça de trinta segundos a reportar a situação).

1 comentário:

XL Man disse...

Bolas, agora já tomei conhecimento de toda essa informação desnecessária que me tenho esforçado por não adquirir, não vendo telejornais e outros folhetins desinformativos desde que começou o verão.