segunda-feira, setembro 18, 2006

O que lá não está, está lá

Swan without a corner

Uma fotografia é rectangular. Oval no máximo. Penso que a razão principal disto é que assim a sua forma, o seu perímetro, não é assunto, é transparente. Com estas formas consegue-se que a fotografia não termine nas suas margens tal como uma paisagem não acaba nos limites de uma janela. Estamos treinados assim (embora as foto-montagens nas revistas tenham vindo ajudar a mudar isto nos casos em que há várias fotos juntas). Como tal, mexer com a sua forma é quebrar esta ilusão. Quando não gostamos de uma foto tentamos melhorá-la reenquadrando-a. Mas nesta foto a única coisa de que eu não gostava ocupava uma boa parte do canto inferior direito e por isso reenquadrá-la estava fora de questão. Era deitá-la fora ou retirar-lhe esse canto. Costuma dizer-se que um quadro contém aquilo que o pintor lá pintou mais tudo aquilo que o pintor decidiu não pintar. Esta foto materializa isso pois contém (literalmente) aquilo que eu não quis lá meter. Agora, por muito que eu não queira, a parte mais importante da imagem é inevitavelmente aquela que deixou de existir.

3 comentários:

Anónimo disse...

São coisas destas que distinguem uma foto banal de uma foto artística. Neste caso
a parte que falta é a mais importante de todas porque leva-nos a imaginar o que será que lá estava.
A arte existe para puxar pela nossa imaginação, incutir curiosidade, levando-nos a outros planos que não aquele que estamos a pertencer ou presenciar.
Nuno, continua a ousar que fartos de mundo a cinzento estamos todos nós.

Luís Flôres disse...

a mim parece-me apenas que falta um bocado, mas deve ser da bronquite do outono que já se avizinha. mas a foto é elíptica, sem dúvida. parabéns!

Nuno Godinho disse...

isso é por causa da esquadria que o blog lhe mete senão ias ver ;)