sábado, junho 11, 2005

Gemas em bruto (ii) - pós-visualização

Muitas vezes, na arte fotográfica, fala-se em pré-visualização - o acto mental de prever a imagem final antes ou durante o momento fotográfico.

Não é comum ouvir-se/ler-se sobre a pós-visualização - o acto de reparar e pensar, durante uma sessão de caixa de luz (real ou num monitor de computador), como determinada imagem resultou no suporte, como imagem latente, e como poderá resultar após o pós-processamento, pré-visualizando imediatamente a imagem final.

Considere-se a pós-visualização como uma pré-visualização do pós-processamento!

Muitas vezes a imagem latente, em filme ou num ficheiro digital - aqui é preferível o RAW (picadela de olho aos não adeptos do workflow - incrédulos/ignorantes/inaptos/alheios/preguiçosos) - guarda uma gema em bruto. Também neste caso é preciso um olhar crítico e analítico para saber reconhecer as verdadeiras jóias potenciais das meras pedras de calcário ou dos simples cristais de quartzo (bonitinhos mas sem grande valor).

Muitas vezes há joias potenciais que se escondem por detrás de uma leve poeira, não sendo logo reconhecidas numa leviana passadela de olhos pela quantidade enorme de imagens latentes produzidas.
Aqui entra a experiência de um olhar treinado e do poder da pós-visualização. É preciso saber reconhecer as imagens latentes que poderão dar boas imagens finais.

O acto fotográfico não termina no registo da imagem latente. Para mim, isso é só o início. Até ao fim da produção de uma grande imagem foto-artística existe ainda um complexo caminho produtivo a percorrer.

Um dos problemas do pós-processamento reside na necessidade de inspiração e paz de espírito, proficiencia técnica, recursos materiais e proficiencia artística necessários ao seu bom desenvolvimento. Assim como para fotografar é preciso tempo e inspiração (e todos os outros recursos citados para o pós-processamento), para pós-processar verifica-se exactamente o mesmo tipo de requesitos mas agora vocacionados ao pós-processamento.
A arte fotográfica tem duas vertentes separadas, uma de obtenção da imagem latente - a prospecção das pedras preciosas. Outra do processamento da imagem latente na imagem final - a lapidação e polimento da gema para obtenção da jóia final.
Talvez por isso alguns artistas se especializem apenas em fotografar, deixando o processamento para outros, e vice-versa! No meio fotográfico encontram-se grandes fotógrafos, grandes 'impressores' (não consigo arranjar melhor termo), mas não se encontram muitos artistas que sejam profiententes nas duas vertentes da arte - ou mesmo que gostem igualmente das duas.
Por fim, o advento da era digital não veio mudar a perspectiva dualista das coisas. A única diferença é que agora o tipo de processamento da imagem latente é outro, requerendo outros recursos e outros tipos de proficiencias.

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