quarta-feira, junho 22, 2005

Dicotomia

Mais um contributo para cena da dicotomia "Tough/Sweet", neste caso, colocada em termos mais "formais" (?), de Dionísio/Apólo. Neste excerto de um mail que ele me enviou há uns dias, o Nuno diz:

Agora estou a ler "O Idiota" do Dostoievsky e estou absolutamente deslumbrado com a capacidade do cabrão para contar uma história. Aliás, constatei uma coisa pela primeira vez que me deixou bastante perturbado: objectivamente a história do Idiota não é nada de especial. Ao contrário dos "100 anos de solidão" em que a história é fantástica, transcendente e cheia de recursos, a história do Idiota é banal. E depois comecei a pensar e a constatar que a história de uma boa parte dos grandes romances é uma trampa de uma história que não acrescenta nada ao mundo. O que acrescenta é a forma como essa história é contada. Por isso mesmo é que não nos importamos nada de ouvir mais que uma vez uma grande história, não
pela história em sim mas pela forma como é contada. É por isso talvez que o meu prof de estética diz que uma obra literária é infinita porque será recriada de uma forma absolutamente nova de cada vez que é lida. Ou seja, o gajo que escreve uma boa história deixa a maior parte do espaço em branco, ao contrário, talvez, do gajo que escreve um romance mau tipo "Código Da Vinci" que tem uma história fascinante mas numa perspectiva cinematográfica (com a papinha toda feita) de
experiência sensorial (Dionísio) em oposição a uma experiência mais profunda (Apólo), mais transformadora, de maior trabalho pessoa. Esta cena do dionísio vs apolo aprendi outro dia numa aula sobre a forma de consumir arte e é deveras interessante. Em traços simples: há quem se fique apenas por tentar satisfazer os sentidos, viver experiências sensorialmente emocionantes, ou seja, tipo dionísio. Mas às tantas evoluis, tornas-te mais exigente, e deixas de querer a emoção aqui e agora, passas a necessitar de algo mais complexo, mais conceptual, algo que, te conseguirá transformar a forma como vês o mundo talvez...


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